Vegetarianismo

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O vegetarianismo é uma parte muito importante da prática espiritual, e o motivo para isso deve ser esclarecido. Ainda que a não-violência envolvida na alimentação sem carne seja meritória e de muita ajuda no sucesso espiritual, existem outras razões menos comentadas mas não menos importantes para a necessidade da dieta vegetariana.

Em primeiro lugar, segundo os Vedas, a comida vem exclusivamente do reino vegetal (‘oshadibhyah annamdas plantas, o alimento’ – Taittiriya Upanishad), e essa é uma informação correta mesmo do ponto de vista biológico. Apenas as plantas tem a capacidade de transformar a luz solar, junto com água e minerais, em comida. Os animais não têm esta capacidade, e precisam comer as plantas, ou comer outros animais que comeram as plantas; de qualquer maneira, comida significa planta, direta ou indiretamente.

Mas vamos às razões para advogar a necessidade do vegetarianismo que não seja a não-violência. Eu, particularmente, tenho algum pudor em justificar meu vegetarianismo com a bandeira da não-violência, porque existem tantas formas de violência entranhadas no nosso comportamento e no comportamento da sociedade na qual vivemos que não matar um frango para comer não faz de ninguém um Mahatma Gandhi ou uma Madre Teresa. Mas qual é a razão então para sermos vegetarianos?

A explicação é muito simples. A Chandogya Upanishad diz que a comida tem três partes: uma grossa, uma média e uma sutil. A parte mais grosseira é aquela que se transforma em fezes, sendo eliminada pelo corpo. A parte média é aquela que se transforma nos tecidos do corpo – pele, sangue, carne, ossos, etc.  Até aqui, a nossa ciência concordaria, mas a Upanishad vai um passo além e diz que existe uma terceira parte da comida, sutil, que  se transforma na mente!

É esta terceira parte, sutil, que não é reconhecida pela ciência, que torna importante o vegetarianismo para a prática espiritual. As outras duas partes não justificariam o vegetarianismo, porque de fato a carne é capaz de formar os tecidos do corpo tão bem quanto as plantas. Alguns até acreditam que a carne forma os tecidos de forma mais eficiente, e o ortopedista que operou o meu fêmur quebrado queria por toda a lei que eu voltasse a comer carne durante a recuperação.

De qualquer modo, nós não estamos interessados em saber se a carne forma  os tecidos do corpo de forma mais eficiente ou não, ou se a dieta vegetariana é mais saudável ou não. Não é esse o ponto, e as discussões sobre o vegetarianismo baseadas nesses aspectos são sempre controversas, inconclusivas e chatas demais! Não precisamos nos preocupar tanto com a saúde do corpo. Um pessoa comprometida com o estudo de Vedanta deveria saber que o corpo dura o tempo que o seu prarabdha-karma permitir, e  você não mudará isso comendo ou não comendo um bife no almoço!

Nós estamos interessados, isto sim, na qualidade do nosso estado mental, e o aspecto sutil da comida influencia o estado mental. Uma comida sattvika torna a mente sattva, clara e contemplativa; uma comida rajasika torna a mente rajas, agitada e cheia de desejos; e uma comida tamasika torna a mente tamas, embotada e iludida.

O Senhor Krishna descreve os três tipos de comida na Gita de acordo com esses três gunas: comidas suculentas e frescas, com gosto agradável e nutritivas são sattvika. Comidas exageradamente pungentes, salgadas, azedas ou amargas demais são rajasika. E comidas velhas, podres, ou cozidas inadequadamente, cuja essência se foi é tamasika.

A carne é notadamente um alimento rajas, aumentando a agitação, a irritação e o desejo. Portanto, a carne é desaconselhável para alguém que busca uma mente clara e contemplativa para estudar os Vedas e ganhar o autoconhecimento.

Mas uma pessoa que segue o vegetarianismo por motivos espirituais não deve se preocupar apenas em ter uma dieta livre de carne, mas deve verificar a qualidade do alimento vegetariano que ingere. É duvidoso qual seria o pior em termos espirituais: uma carne fresca e bem feita na sua própria casa ou uma comida vegetariana podre, feita numa barraca suja de rua. Cabe lembrar aqui, também, que a maioria das comidas industrializadas e cheias de conservantes, com muito sal ou muito açúcar, que não têm nenhuma vitalidade e são válidos por longuíssimos períodos de tempo são consideradas tamasikas, o que significa que a parte sutil destes alimentos se transforma em uma mente iludida.

 

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