Aprendizagem Organizacional
As Pessoas aprendem. Aprendemos a andar, falar, estudar.Aprendemos a viver em sociedade, envelhecer, amar. Aprendemos a construir, transformar, criar. Aprendemos novas línguas, novos conhecimentos, novas habilidades. Aprendemos a trabalhar e trabalhamos aprendendo. Aprendemos com a vida e com as pessoas. Aprendemos com os mais velhos e com os mais novos. Passamos, enfim, a vida aprendendo. Isso é insofismável. E quanto às organizações, elas também aprendem?empresas não apenas aprendem como são obrigadas a aprender, até por uma questão de sobrevivência. Elas aprendem a ouvir e a atender as necessidades do cliente,aprendem a modificar processos, a criar novos produtos e serviços.
As organizações aprendem especialmente porque há pessoas nas organizações, pessoas que já aprenderam e que estão aprendendo. O ambiente das organizações constitui-se assim um lugar especial onde há troca incessante de informação, conhecimento e saber.
Aprendizagem Organizacional, como você pode perceber, é um tema amplo e instigante. Nesta edição, vamos mostrar o que é Aprendizagem Organizacional e como e por quê uma organização aprende.
Vivendo e aprendendo
A mudança é inevitável. O crescimento é opcional
Anônimo
O que é uma metáfora?
Metáfora é o emprego de uma palavra ou expressão cujo significado natural é substituido por outro, em virtude de uma relação de semelhança subentendida.
A expressão Aprendizagem Organizacional é uma metáfora, pois estende o conceito de aprendizagem para as organizações, como se elas fossem seres capazes de aprender. Hoje em dia, muitos autores consideram que realmente uma organização aprende.
O que é uma Organização?
A maior invenção que sairá dos laboratórios de pesquisa no futuro será a própria organização John Brown – Xerox
A palavra organização, do grego organon, significa algo como “reunião de meios para atingir um fim”. Nas línguas ocidentais, ela adquiriu vida própria, passando também a representar uma “reunião de meios” específica, juridicamente determinada, da qual as empresas são as representantes maiores. A disposição de um grupo de jogadores em campo, ou de peças de mobiliário numa casa é ainda uma organização no seu sentido amplo.
A Organização, no sentido jurídico, é uma reunião de pessoas e coisas com o objetivo de produzir determinado bem ou prestar determinado serviço. Ela reúne elementos materiais, como prédios, móveis, equipamentos, veículos etc. e elementos imateriais, como a tecnologia ou o sistema operacional adotado durante suas atividades.
Um breve histórico
Desde o neolítico até fins do século XIX, o processo de produção – processo operacional – era baseado principalmente na manipulação da matéria. Para tanto, o que se usava, basicamente, era força física, humana ou animal. Predominava o trabalho braçal. Por essa época, as mudanças eram muito lentas e as pessoas viviam num mundo aparentemente estável e uniforme. O que um filho precisava aprender para viver era basicamente o mesmo que seu pai e avô haviam aprendido. Era a época onde valia a expressão “de pai para filho desde…”
Nos primeiros anos do nosso século, o processo passou a manipular a energia contida na matéria. Falava-se de átomos e ergs e o trabalho passou a depender da habilidade física para operar máquinas e instrumentos. As mudanças se aceleraram. Entretanto, uma pessoa, se considerada isoladamente, ainda dispunha de uma sensação de estabilidade, pois tinha um certo prazo para absorver as mudanças.
Na segunda metade do século, uma terceira dimensão passou a ser usada nos processos operacionais, cada vez com mais intensidade: a informação. Nos tempos atuais, não é raro acontececerem novidades trazidas pela tecnologia informacional, que tornam obsoletos sistemas operacionais de apenas dois ou até um ano de existência. E o trabalho humano passa a demandar cada vez mais da habilidade para conhecer, ou seja, habilidade cognitiva.
Da mesma forma, esse fenômeno aconteceu com as pessoas, para quem o “processo operacional” é o próprio processo de viver. Hoje, as necessidades de aprendizagem de um filho são diferentes daquilo que seu pai aprendeu. E ambos, pai e filho, necessitam estar em contínuo processo de aprendizagem, para acompanhar a evolução da sociedade.
| Já parou para refletir sobre os tantos momentos da sua vida onde você teve que se repensar? |
Pessoas e aprendizagem organizacional
Após essa breve contextualização histórica, podemos perceber que a organização foi colocada diante da necessidade de apreender e interpretar novas formas operacionais introduzidas no ambiente. Para se manter atuando no mercado, ela deve adaptar-se às modificações, sob pena de ser superada pela concorrência e tornar-se “desqualificada”.
Portanto, ela necessita dispor de elementos internos que monitorem essas mudanças e ajam de forma adequada para garantir sua sobrevivência; elementos que irão agora manipular, não somente força e energia, mas também informações. Ao lado e além de átomos e ergs, passamos a falar de bits…
As pessoas são os “elementos” que uma organização dispõe para tal tarefa. São elas que têm a incumbência de perceber as mudanças que ocorrem no ambiente, interpretá-las e promover os ajustes internos necessários. Ajustes esses, tanto em sua estrutura quanto em suas metas, necessários para garantir a continuidade da organização. São os “meios” que a organização dispõe para atingir suas metas. Poderíamos chamar esta tarefa de auto-reorganização, promovida por uma aprendizagem organizacional. Antes de verificar como esse processo ocorre, cabe a pergunta: o que é aprender?
| Evolução do perfil da estrutura do Trabalho Humano
Na fig. 1, percebemos que o perfil da Estrutura do Trabalho, até fins da sociedade medieval, tem uma forma piramidal, com a base concentrando atividades baseadas no uso preponderante da Força Física, humana e de origem animal: o trabalho braçal. Esse perfil, nos últimos 300 anos, realizou um processo acelerado de modificações através de uma crescente especialização do trabalho e do trabalhador, com uma simultânea e progressiva utilização de força mecânica e eletro-mecânica. Na sociedade mais desenvolvida da era industrial, o perfil é o que chamamos de ‘diamante bruto’ (fig. 2), com o alargamento das atividades intermediárias e predominância da Habilidade Física na manipulação de máquinas e instrumentos. Com o advento da Microeletrônica, nova alteração é processada nessa estrutura, apontando uma tendência para a forma do ‘diamante lapidado’ (fig. 3), onde a parcela de Conhecimento ganha maiores proporções: é o que chamamos de Habilidade Cognitiva, predominante nos dias atuais. A figura 4, mostra uma tendência para mais longo prazo, quando supostamente as atividades estarão em sua grande maioria baseadas no uso intensivo do Conhecimento, mas que, por representar um quadro de possibilidades, dentre outras, situada em um futuro ainda longínquo e incerto, não cabe aqui apreciar. |
O Aprender
“Em qualquer ser vivo verifica-se uma unidade entre processos vitais e processos de aprendizagem. Não há mais como separar o viver do aprender… nenhum organismo sobrevive sem estar ativando continuamente sua capacidade adaptativa” Hugo Assmann, “Reencantar a Educação”– ed. Vozes
Aprender não é só adquirir conhecimento através do recebimento de informação. Também não é a mesma coisa que resolver problemas; isto envolve tomada de decisões sobre o ponto em que se está e o estado a que se deseja chegar. Tampouco é pura adaptação, pois isto implica reagir em resposta a um contexto não necessariamente de êxito crescente.
Só se pode falar de aprendizagem quando o comportamento aumenta a eficiência com a qual processa a informação, de tal maneira que alcance os estados desejados, evite erros, ou controle uma parte do meio externo.
É possível aprender com tentativa e erro. Este processo exige a retroalimentação acerca dos erros cometidos. É um processo preventivo para que o comportamento sem êxito não se repita. Os erros acabam contribuindo para o aumento do êxito.
Aprender, então, é um processo de êxito crescente num meio determinado. Ou seja, é um processo em andamento que só se encerra quando a pessoa “sabe”. Quando você sabe, já aprendeu. Se está aprendendo, está construindo seu saber. Como uma pessoa nunca sabe tudo que precisa saber para viver, a aprendizagem é permanente: é o próprio processo de viver. A organização também necessita manter-se sempre no processo; sua aprendizagem nunca é “encerrada”, em face da permanente mudança das condições no ambiente em que ela opera.
Atualização permanente
No meio empresarial é frequente dizer “nossos funcionários são nossos recursos mais importantes”. Todavia, hoje não se pensa num equipamento ou sistema operacionalfuncionando da mesma forma por dez anos ou mais. Nesse período, mudanças são introduzidas no ambiente e novas tecnologias precisam ser adotadas para manter a empresa no seu mercado. Ou seja, todos os recursos precisam ser atualizados. E, se as pessoas são os “recursos mais importantes”, a responsabilidade da empresa por essa atualização é ainda maior. Ela necessita atualizar cada um de seus colaboradores. É essa atualização, precisamente, que irá propiciar a absorção e uso das demais,mantendo a empresa sempre “atualizada”.
| Você se percebe aprendendo com o ambiente de trabalho? |
O Aprender das Organizações
Da mesma forma como ocorre com as pessoas, a organização não pode parar de aprender. Pois é a aprendizagem organizacional que a mantém em permanente estado de adaptação, modificando e recriando seus processos internos e externos.
Se uma organização pára de aprender, pára de se auto-reorganizar, é ultrapassada pelos concorrentes e morre.
A aprendizagem é acompanhada de uma ação que lhe corresponde. Para o funcionário de uma empresa, este aprendizado se faz no dia-a-dia das atividades, com inovações, criatividade, correções. Esse processo, que não se encerra, é chamado na teoria organizacional de aprendizagem de 2o nível: um estado de permanente aprendizagem, onde o aprendiz aprende a aprender, ou seja, o que ele sabe agora é aprender. Mais adiante, vamos explicar porque é tão importante aprender a aprender.
| Você percebe que a melhoria dos produtos ou serviços do Banco é fruto da sua aprendizagem junto com a da organização? |
Auto-Organização e Complexificação
“Organizações adaptativas necessitam desenvolver flexíveis estruturas que otimizem o aprendizado. Dito propriamente, tal flexibilidade pode ajudar alcançar mais altos picos em ambientes estáveis e otimizar o percurso em ambientes instáveis” (Stuart Kauffman, um dos criadores da Teoria da Complexidade.
O “aprender” modifica o aprendente, aquele que aprendeu, pois se alguma coisa é acrescentada a ele, ele mudou. Essa é a modificação interna. Já as modificações externas são aquelas que acontecem no ambiente, em consequência de novas ações realizadas pelos “outros”. Chamamos o processo de mudança interna das organizações de Auto-organização e o de mudança externa, Complexificação.
Mas lembre-se que, para o “outro”, você é que é outro. As modificações internas – Auto-organização – realizadas na sua empresa , para as outras empresas, são modificações externas – Complexificação. E assim é: todos mudam, o tempo todo, exigindo de todos uma permanente atividade de adaptação.
Essa capacidade de adaptação é um jogo permanente, com o externo e o interno em uma contínua e ativa troca de informações e influências, realizada pelos seres humanos e intermediada pelos instrumentos e dispositivos operacionais utilizados pela organização.
Em outras palavras, adaptação é conhecimento em ação. Para se mudar um comportamento externo, muda-se o conhecimento interno e vice versa; a adaptabilidade depende de uma reorganização, tanto interna quanto externa: uma “auto-organização” e uma “complexificação”. Agora, reparem que a relação entre estes conceitos dá uma idéia de processo, de algo em andamento, de uma Atividade. Isto vale tanto para as pessoas quanto para as organizações.
Em resumo, a aprendizagem organizacional ocorre através da obtenção de informações sobre:
- O ambiente – o que é diferente de sua simples recepção (posto que pressupõe uma busca ativa);
- O reconhecimento dessa informação (sem o que ela é inútil); e
- Mecanismos de feedback cuja função principal é possibilitar à organização a absorção de mudanças “externas”, e conseqüentes mudanças “internas”.
Atividade: o motor da evolução
“A finalidade intrínseca de toda experiência individual é o aperfeiçoamento e a ampliação da percepção consciente e o desenvolvimento evolucionário da espécie” Wilis Harman – Presidente do Instituto de Ciência Noéticas
Movimento da aprendizagem
Uma Atividade envolve dois aspectos indissociáveis: o aspecto subjetivo,voltado “para dentro”- da aprendizagem – e o aspecto objetivo, voltado “para fora” – da ação. Não há ação sem uma aprendizagem. Como vimos, não há aprendizagem sem ação correspondente. Aprendizagem e ação não existem isoladamente; são como as duas faces de uma mesma moeda. Integram uma unidade, são os dois aspectos da Atividade.
Podemos, então, definir Atividade como sendo “uma busca ativa da melhor adaptação ao ambiente realizada simultaneamente pela Aprendizagem (que é a absorção cognitiva das alterações do meio ambiente) e pela Ação (definida como atuação, sempre modificada, no meio ambiente).” Enquanto estou agindo, estou aprendendo. No mesmo momento que estou aprendendo, estou agindo. Isto é Atividade.
Aplicando esses conceitos ao nosso tema, entendemos que a aprendizagem organizacional permite à organização – em resposta às pressões das modificações ocorridas no meio ambiente –, auto-reorganizar-se através da aprendizagem. Se esta é adequada, ela modifica sua ação no meio ambiente de forma a melhorar sua adaptação a ele. Essa ação modificada altera o meio ambiente, complexificando-o, o que retorna na forma de novas pressões, fechando o ciclo aprendizagem/ação, auto-organização/complexificação.
Aprender a Aprender
Como vimos, a principal atividade de uma empresa era operar seu processo interno para realizar suas metas operacionais de produção ou prestação de serviços. Já que as mudanças no ambiente ocorriam de forma lenta, esse processo era mais ou menos estável. Com a aceleração do processo de modificações no ambiente, essa atividade mudou de configuração. Hoje, a principal atividade é aprender como produzir aquele bem ou prestar aquele serviço de forma adequada em relação às modificações ocorridas no ambiente em que ela opera.
Se antes a tecnologia operacional era implantada mais ou menos à revelia das pessoas que participavam da empresa, hoje essa tecnologia precisa ser “criada” ou, pelo menos, adaptada internamente pelas pessoas que formam a empresa. E como essa evolução não pára, a adaptação nunca é definitiva, necessitando de permanente revisão.
A atividade fim da organização – a produção de bem ou serviço – passou a ser extremamente dependente de uma permanente adaptação. Hoje em dia não basta comprar ou ensinar as atividades meio de forma estática, uma vez para sempre, por exemplo.
Não basta apenas saber o que e como produzir; é preciso saber modificar o como produzir o que. A principal atividade passou a ser aprender a aprender.
Comunidade de Aprendizagem
“O ser humano – o animal com o cérebro mais desenvolvido – é acima de tudo um organismo que aprende. Ele é concebido para aprender. Como ele o faz? E sob quais circunstâncias e cenários ele o faz melhor?”
Edward Hall – Antropólogo
O Resgate do Todo
“Só posso compreender um todo se conheço, especificamente, suas partes. Mas só posso compreender as partes, se conheço o todo”.
Pascal, filósofo.
- desmonte uma bicicleta.Pegue as peças e coloque todas num canto qualquer, do jeito que você quiser. Agora responda: esse monte de peças é o que?
- pense numa cadeira de madeira, onde o encosto e o assento são duas peças iguais. Desmonte-a, junte todas as peças num canto. Essas peças são o que? E aquelas duas tábuas iguais, soltas, são o que? Percebeu?
Você vai precisar usar o mínimo de sua imaginação para relacionar as partes soltas entre si e descobrir “um todo” coerente e então identificar a “coisa”. O que forma uma coisa, seja lá qual for, são as relações existentes entre suas partes. Nós podemos dividir uma pessoa em várias partes, sob diferentes critérios. Mas sejam quais forem os critérios de divisão, não poderemos compreender um ser humano se olharmos apenas as suas partes.
O que forma uma organização são suas partes e as relações entre elas. Só podemos entendê-la se a vemos como um todo. Para você, esse todo não está “lá fora”, da mesma forma que “você” não está “fora” de suas partes.
O todo só existe (você ou a organização) através das relações de suas partes. Mas essas relações formam um “algo” que tem identidade própria: o todo é maior que a soma das partes, o que é conhecido como o efeito Sinergia. Perceba isso com relação à bicicleta; e à cadeira. Perceba que o todo tem uma identidade própria formada por uma propriedade que surge das relações de suas partes. Perceba isso com relação à sua família. E com relação à Organização da qual você faz parte.
Pensamento Sistêmico
“Hoje a teia de relações que une a raça humana a si mesma e ao resto da biosfera é tão complexa que todos os efeitos afetam todos os outros em um grau extraordinário”.
Murray Gell-Mann – Prêmio Nobel de Física
Pense de novo na bicicleta, desmontada. Aquelas peças lá no canto são apenas isso: um monte de peças. Agora monte a bicicleta. Pronto!. Ela está pronta para funcionar. Para cumprir o seu papel, o que falta a ela? Pense um pouco… Descobriu?
Falta alguém montando nela, dirigindo-a, e um caminho adequado para ela rodar, não é mesmo? Aí então cada parte desse “veículo” irá funcionar. Mas é preciso que todas as partes funcionem bem, inclusive o condutor e o ambiente externo, senão o sistema não funciona. Da mesma forma que uma Organização. Agora, completamos a idéia de um sistema.
As propriedades de um sistema são:
- a performance de cada elemento do conjunto afeta a performance do conjunto como um todo. Cada órgão de um corpo, por exemplo, afeta o desempenho desse corpo. E, na perspectiva de um todo maior, a qualidade do ar, sua rarefação, a qualidade da água e dos alimentos, o clima etc. etc.;
- a performance de cada elemento do conjunto depende da performance de pelo menos um outro elemento. Portanto, nenhuma parte tem efeito independente sobre o todo. O desempenho do coração, por exemplo, depende do desempenho do pulmão, que por sua vez depende…;
- todos os elementos que formam subgrupos no conjunto, estão sujeitos às regras anteriores. Portanto, subconjuntos existem apenas por comodidade, para compreensão do todo, mas eles não são independentes. Os sistemas nervoso, respiratório, digestivo e motor, por exemplo, são todos inter dependentes em suas funções, afetando o desempenho do corpo.
Sistemas são totalidades integradas, cujas identidades independem da identidade das partes que o compõem, mas dependem das relações dessas partes. Todavia, os sistemas não são isolados, “soltos”. Da mesma forma que cada parte é um sistema menor, cada sistema é parte de um sistema maior. Para perceber como isso ocorre com você em sua Organização, veja os fascículos “Papel Ocupacional” 1 e 2 (fascículos 17 e 18).
As propriedades em cada nível (sistema) não são intrínsecas: elas só podem ser entendidas em relação ao contexto às quais estão integradas, formando um sistema maior: as células em relação aos órgãos; os órgãos em relação ao corpo/pessoa; a pessoa em relação à sua família, seu trabalho e outros contextos; a família em relação à cidade, sociedade… o trabalho em relação à organização, e desta em relação à sociedade…
Quando percebemos a realidade como uma rede de relacionamentos, integrados em vários níveis, nossa percepção de nós mesmos e do ambiente muda. Já não nos vemos como entes isolados, mas como entes, livres todavia integrados, numa teia de relacionamentos sem fim.
| Você percebe a sua dependência como um ambiente orgânico, como uma teia de relacionamentos? | |||
A Natureza Comunitária das Pessoas
A Existência é Relacional
(Lama Anagarika Govinda)
Pense na palavra “Corporação”. Que pensamentos vêm à sua mente? Agora pense na palavra “Comunidade”. Que pensamentos essa palavra sugere?
Na maioria das vezes Corporação traz imagens de autoridade, burocracia, competição, poder e lucro (para corporações privadas). Também pode lembrar automatismo e máquina, onde prevalecem a ordem e a hierarquia.
Comunidade, por sua vez, lembra coisas mais “planas” e mais “espirituais”: cidadania, cooperação, compromissos, espírito de equipe, de união, liberdade e alegria… Sejam quais forem os detalhes, as imagens trazidas por Comunidade são mais nobres e têm um sentimento positivo de nossa participação em algo maior e mais belo.
Corporação continua tendo um sentido jurídico, mas as organizações hoje procuram se aproximar mais do sentido de “Comunidade”. Não porque sejam “religiosas”, mas porque dependem do despertar desse sentimento, e de sua intensificação, para a própria sobrevivência. As comunidades são um dos mecanismos mais poderosos para criar cooperação humana. São elas que nos preservam do isolamento, da angústia, e nos afasta de atitudes nefastas para nossos relacionamentos. São elas que nos ajudam a dar sentido às nossas vidas.
Qualquer coisa só existe em relação a outra(s) coisa(s). Para identificarmos alguma coisa, ou alguém, é necessário colocar essa coisa ou alguém num contexto comunitário.
| Em toda tarefa há um componente de aprendizagem organizacional. Você percebe que um processo ou uma simples rotina têm embutidos a soma das contribuições, ou seja, das aprendizagens de vários colegas de trabalho ao longo do tempo? |
Pense numa onda, em alto mar. Ela é onda (sua identidade) por estar numa relação específica com o resto do mar. Se não houver a relação onda/mar não haverá a diferenciação, e tudo será mar. No momento em que cessa a relação, não há identidade e ela deixa de ser onda.
Nós somos relacionamentos. Você é seus relacionamentos. Você se define através de seus relacionamentos. Veja o exercício que vem a seguir:
Exercício – complete a frase: “Eu sou… … …”
Para completar a frase, você tem que estabelecer um contexto; você só é alguma coisa em um contexto, onde existem situações da qual outras pessoas participam, ou seja um contexto comunitário. Você só é, numa relação.
Quando esquecemos que somos nossos relacionamentos, esses passam a ser “transações” entre egos isolados, com trocas simbólicas ou econômicas, meramente contratuais. E compromissos contratuais não se modificam, não evoluem, não aprendem. Só com relacionamentos autênticos podemos evoluir, aprender.
Visão Compartilhada
“Um dia importante na vida de todo mundo é quando as pessoas começam a trabalhar para o que querem construir na Organização, e não para agradar um chefe ou cumprir um manual”
Bill O’Brien – Presidente do Hanover Insurance Co.
Você está num momento calmo, numa posição relaxada? Se não está, providencie isso antes de prosseguir.Agora, faça o seguinte exercício:
- Auto Imagem:
- Qual é sua imagem ideal? Como você gostaria de ser?
- Qual é sua imagem atual? Como você é hoje?
- Qual a distância entre as duas imagens? O que você precisa fazer para percorrer essa distância?
- Faça o mesmo exercício (imagem ideal x imagem atual, e caminho entre elas) para as seguintes questões:
Posses materiais
Saúde
Família
Trabalho
Crescimento pessoal
Propósito de vida: sua missão
- Agora, desloque o foco para a organização, invertendo a ordem das questões:
O propósito da organização: sua Missão. Ela está clara para você? Sua própria missão e a da organização constituem apenas enfoques específicos de uma mesma missão? Elas se complementam e ajustam? Para que você realize sua missão é necessário que a Organização realize a dela? Para que a Organização realize a sua missão é necessário que você realize a sua?
O crescimento da Organização está coerente com a Missão? Melhora a realização da Missão? Você se sente realizado com esse crescimento? As atividades desenvolvidas por você na Organização estão coerentes com a missão de ambos?
Seus relacionamentos são honestos e sadios? Estãoharmonizados com a missão de cada um e com a da Organização?
A saúde da Organização está boa? Você se mantem alerta e toma providências quando percebe que alguma coisa vai mal?
A Organização dispõe dos bens materiais necessários e adequados para realizar sua missão? Você externa sua visão sobre o assunto?
Equipes
“A medida mais importante sobre a qualidade do meu desempenho numa partida, era ‘o quanto melhor’ eu tinha feito meus companheiros jogarem”
Bill Russel, jogador de basquetebol do Celtics, campeão de 1957 a 1969.
Aprender em equipe não significa desenvolvimento de equipes. Em seu trabalho, quantas vezes você aprendeu a partir dos erros dos outros? Ou de seus acertos? E quantas vezes você orientou outros a partir de seus erros e seus acertos?
Aprendizado em equipe se faz através de um relacionamento ativo, traduzido nas “conversas” e “diálogos”.
Con – versa (latim) con: de cum = juntamente, no mesmo nível; versa = versar sobre, falar sobre.
Dia – logo (grego) dia = através, um com o outro; logos = conhecimento.
Num diálogo ou conversa, os falantes se colocam no mesmo nível e trocam experiências e visões. Não há superioridade. Não há inferioridade. Troca, significa que ambos falam, ambos escutam e convergem para o que houver de comum, através da experiência, aumentando o conhecimento de ambos. Compare essa palavras com “monólogo” e “discurso”.
Todavia, não basta melhorar a comunicação (o que seria desenvolvimento de equipe). O aprendizado em equipe se faz no dia-a-dia, quando cada um, em sua atividade, percebe o todo do qual aquela atividade que ele está executando naquele momento faz parte. Ao ter essa percepção, ao se esforçar para ter essa percepção, cada um consegue “ver” como influencia e como é influenciado pelo(s) outros(s). Percebendo essa rede de influências, cada pessoa pode contribuir para melhorar sua própria atuação em benefício da atuação do outro. Compartilhando experiências. Discutindo de forma hábil as várias nuanças da atividade.
Você troca experiências? Você aprende com a experiência dos outros? Você escuta realmente o que o outro diz? Você fala sempre abertamente e com honestidade sobre suas experiências? Você pede opinião? Você dá opinião? Enfim, você está integrado na rede, dela participando ativamente?
| Em resumo |
A mensagem que perpassa este trabalho pode ser resumida em poucas palavras: em nossa longa caminhada, como espécie, tivemos muitas vitórias mas também muitas derrotas. E se estamos vivos até hoje é porque soubemos aproveitar as vitórias, e aprender tanto com elas como com as derrotas.
O comportamento de qualquer animal é quase sempre determinado por processos biológicos inconscientes, herdados geneticamente. A variação de comportamento entre dois cachorros, por exemplo, é mínima, sejam de que raça forem.
Com o ser humano acontece o contrário: a semelhança de comportamento entre dois homens é que é mínima. Seu comportamento é derivado sobretudo do seu aprendizado, de sua história.
Em nosso tempo, a necessidade de aprendizado é mais premente, é mais forte, em vista da aceleração das mudanças introduzidas no ambiente. E uma das condicionantes mais fortes dessa necessidade é o reconhecimento de que não somos isolados, de que formamos uma Comunidade: uma comunidade de relacionamentos e aprendizado.
Autor: Luís Carlos Freire,
Doutor pela Universidade de Brasília Vice-Presidente da SBGC (Sociedade Brasileira de Gestão do Conhecimento)-Bahia Membro do Conselho Científico da SBGC Nacional Pesquisador e Consultor em Conhecimento Organizacional Professor Universitário. Autor de artigos diversos em Gestão do Conhecimento e afins.

