Geografia e Clima do Ceara
Geografia
O Ceará é cercado por formações de relevo relativamente altas, como chapadas e cuestas. Banhado a norte pelo Oceano Atlântico, a oeste é delimitado pela Serra da Ibiapaba (Serra Grande); a leste, parcialmente, pela Chapada do Apodi; ao sul, pela Chapada do Araripe. Vem dessa cercania de altos relevos delimitantes do território o nome de Depressão Sertaneja dado à área central.[85]
Enquanto as chapadas e cuestas são de origem sedimentar, as serras e os inselbergs que abundam em meio à Depressão Sertaneja são de formação cristalina. Dentre os relevos sedimentares, a Chapada do Araripe, com altitudes que vão de 700 m até mais de 900 m, e a Serra da Ibiapaba, com altitude média de 750 m. Por outro lado, na Chapada do Apodi, as altitudes são menores, não superiores a 300 m. Já dentre as serras de origem cristalina, estão o Maciço de Baturité, a Serra da Meruoca e a Serra de Uruburetama, com altitude de 600 a 800 metros. Em Catunda, na Serra das Matas, encontra-se o ponto mais elevado do estado, o Pico da Serra Branca, a 1 154 metros de altitude.[86]
A planície litorânea possui geografia diversificada, o que faz com que o estado possua muitas praias com coqueirais, dunas, barreiras (também chamadas falésias) – paredões sedimentares que acompanham a faixa da costa e, em alguns trechos, possuem tons coloridos – e áreas alagadas de manguezal, nos quais há grande biodiversidade.[87] As praias mais famosas do Ceará são Jericoacoara, Canoa Quebrada e Porto das Dunas, as quais se destacaram por terem alcançado fama internacional. Regionalmente, outras praias de destaque são das Fontes, Morro Branco, Icaraí, Presídio, da Baleia, Flecheiras, Cumbuco, Ponta Grossa, Lagoinha e Barra do Cauipe. O litoral cearense é atravessado por duas rodovias, chamadas de Costa do Sol Nascente e a Costa do Sol Poente, que, a partir de Fortaleza, direcionam-se para o litoral leste e oeste, respectivamente.[87]
O território cearense é dividido em doze bacias hidrográficas, levando em consideração a divisão da grande bacia do rio Jaguaribe em Alto, Médio e Baixo Jaguaribe.[88] Tal bacia compreende mais de 50% do estado com seus 633 km de extensão.[89] Os dois maiores reservatórios de água do Ceará são barragens que represam o Jaguaribe, o Açude Orós e Açude Castanhão, com as respectivas capacidades de armazenamento de 2,1 e 6,7 bilhões de metros cúbicos de água. O Açude Castanhão é, ainda, o maior açude do país.[90] Os afluentes mais importantes do rio Jaguaribe são os rios Salgado e Banabuiú.[91] O Ceará possui uma das maiores e mais importantes faixas litorâneas do país do ponto de vista turístico,[92] que se estende por 573 km, nos quais predominam os mangues e restingas, vegetação litorânea típica, além de áreas sem vegetação recobertas por dunas.[93]
Clima
O clima do Ceará é predominantemente semiárido (BSh) e tropical (As), cujas regiões mais áridas se situam na Depressão Sertaneja, a oeste e sudeste, com pluviosidades que, em trechos da região dos Inhamuns, podem ser menores que 500 mm, mas também podem se aproximar de 1 000 mm em outras áreas caracterizadas pelo clima semiárido brando, a exemplo da área semiárida do Cariri, nas cidades relativamente próximas à faixa litorânea.[94]
No litoral, devido à influência dos ventos alísios, o clima é tropical subúmido com pluviosidades normalmente entre 1 000 mm e 1 500 mm, a partir do qual surge uma vegetação mais densa, com forte presença de carnaubais, que caracterizam trechos de mata dos cocais. O clima também se torna subúmido, com caatinga mais densa e maior pluviosidade, nas adjacências das chapadas e serras,[95] como nas serras de Baturité, Meruoca e Uruburetama onde, em função das altitudes, as pluviosidades superam os 1 000 mm anuais devido à ocorrência de chuvas orográficas, em especial na sua vertente de barlavento, proporcionando o surgimento de cerradões e florestas tropicais.[96] Essas áreas contêm mananciais que banham os sopés dessas regiões, tornando-os propícios à atividade agrícola. É nas serras e próximo a elas, assim como nas planícies aluviais, que se concentra a maior parte da população do interior cearense, com densidades superiores a 100 hab./km², por exemplo, em boa parte do Cariri cearense.[97]
As temperaturas são bastante elevadas, com médias de 26 °C a 28 °C, mas a amplitude térmica anual é pequena ao longo do ano,[96] em torno de 5 °C,[94] As médias giram entre meados de 20 °C no topo das serras a até 28 °C nos sertões mais quentes.[98] Nas áreas serranas, as temperaturas são mais baixas, com média de 20 °C a 25 °C,[96] com mínimas anuais muitas vezes alcançando entre 12 °C e 16 °C.[98] É raro as temperaturas ultrapassarem os 35 °C na região litorânea, ao contrário do que ocorre no Sertão cearense, onde a amplitude térmica diária pode ser relativamente grande ao longo do dia devido à menor umidade.[99] Em todo o estado, os dias mais frios ocorrem geralmente em junho e julho e os mais quentes, entre outubro e fevereiro.[96]
Secas
O clima do Ceará é marcado pela aridez. As secas são periódicas, e, desde que a ocupação territorial foi consolidada, a população tenta resolver o problema da escassez de água. A seca de 1606 foi a primeira a marcar a história da ocupação do território. Outra seca de grande impacto foi registrada entre 1777 e 1779, a chamada seca dos três setes, responsável pelo enfraquecimento da indústria das charqueadas, que teve seu golpe final no período de grandes secas entre 1790 e 1794.[100]
Durante as décadas seguintes, até 1877, o Ceará viveu relativa tranquilidade, sem grandes estiagens, até que naquele ano e nos dois seguintes uma grande seca prejudicou fortemente a agropecuária no estado.[101] No começo do século XX, foi criada a Inspetoria de Obras Contra as Secas, que mais tarde passaria a ser o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas, com sede em Fortaleza, para realizar estudos, planejamentos e obras contra as estiagens, em 1909.[102] Com o trabalho do DNOCS, várias barragens foram construídas em todos os estados do Nordeste. Na década de 1930, foi instituído o polígono das secas, no qual a quase totalidade do território cearense (92,99%) está inserido.[103]
Atualmente, existem muitos órgãos do governo cearense voltados para a problemática do clima. A Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos juntamente com a Superintendência de Obras Hidráulicas são os órgãos que fazem a gerência de várias barragens e o planejamento de adutoras e canais. A Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (FUNCEME) é a responsável pelo monitoramento climático. Finalmente, o órgão central é a Secretaria dos Recursos Hídricos, que faz toda a estruturação de metas e planos para combater a seca no Ceará.[104]
Biodiversidade e problemas ambientais
Inserido no bioma da caatinga, com período chuvoso restrito a cerca de quatro meses do ano e alta biodiversidade adaptada,[106] o Ceará o único a estar completamente inserido na sub-região do sertão. A sazonalidade característica desse bioma se reflete em uma fauna e flora integradas às condições semiáridas. Consequentemente, há grande número de espécies endêmicas,[107] sobretudo nos brejos e serras, isolados pela caatinga, e refúgios da flora e fauna de matas tropicais úmidas.[108]
Destacam-se, na flora cearense, a carnaúba, considerada um dos símbolos do estado e também importante fonte econômica, e a Zephyranthes sylvestris, flor original do habitat cearense. Existe ainda o carrasco, vegetação xerófila peculiar, que surge no reverso da Serra da Ibiapaba e do Araripe, áreas mais secas, caracterizando-se por uma flora arbustiva e arbórea predominantemente lenhosa, ao contrário da caatinga. O carrasco distingue-se ainda da caatinga pela quase inexistência de cactos e bromeliáceas. Alguns estudiosos se referem a essa vegetação como uma espécie de transição entre o cerrado, a floresta tropical e a caatinga.[109]
Os ecossistemas do estado estão profundamente danificados e muito pouco preservados.[110] As regiões de floresta tropical e cerrado, nas serras e chapadas de elevada altitude, possuem grande concentração demográfica, intenso uso para fins agropecuários e, comparativamente, pouca preservação e fiscalização ambiental. Os crimes ambientais são praticados constantemente em áreas como a APA Araripe – sobretudo as queimadas e retirada de lenha – e não podem ser reprimidos devido ao parco efetivo de fiscais, dentre outros motivos.[111] Atualmente a mata atlântica ocupa apenas 1,2% do território estadual, tendo sido bem mais extensa no passado, mas 44% do restante está em áreas de preservação, o que, porém, não tem garantido sua total conservação.[112]
Em situação ainda mais grave está a extensa caatinga cearense, que conta com uma ínfimos 0,45% de preservação, embora represente, em suas variadas formas, 92% do território estadual.[113] 80% da caatinga cearense estão devastados,[114] e muitas das áreas restantes, apesar de aparentemente conservadas, não passam de formas vegetais secundárias menos ricas e alteradas pela substituição de espécies vegetais, o que acarreta graves prejuízos para o solo e os já escassos recursos hídricos. A desertificação avança no estado e atinge níveis preocupantes, sobretudo em Irauçuba.[115]
Unidades de conservação
Existem dois parques nacionais no estado do Ceará. O Parque Nacional de Ubajara, criado em 30 de abril de 1959, com 6 299 ha, abriga em seu interior a Gruta de Ubajara e um bonde de acesso à gruta, sua maior atração. O segundo é o Parque Nacional de Jericoacoara, criado em 2002 para preservar as praias, lagoas, dunas e mangues da região, cujo principal atrativo é a Pedra Furada. Já a Reserva Natural Serra das Almas que é reconhecida pela UNESCO como Posto Avançado da Reserva da Biosfera,[116][117] detentor de 6 300 hectares de área protegida (entre Crateús no Ceará e Buriti dos Montes no Piauí), que é abrigo de uma amostra significativa da flora e fauna da caatinga, único bioma exclusivamente brasileiro. Também servindo de resguardo a três nascentes e espécies ameaçadas de extinção no Bioma.[118]
Outras áreas de preservação ambiental importantes são as florestas nacionais do Araripe (a primeira Floresta Nacional do Brasil, estabelecida em 1946) e a de Sobral. Existe, ainda, a Área de Proteção Ambiental da Chapada do Araripe, com 10 000 km², que se estende por 38 municípios do Ceará, Pernambuco e Piauí e a Área de Proteção Ambiental Delta do Parnaíba, que abrange 10 municípios no Maranhão, Piauí e Ceará.[119][120] Há, também, o Geoparque Araripe, o primeiro do gênero no continente a integrar a Rede Internacional de Geoparques da UNESCO, de grande importância em geodiversidade.[121]
O Governo do Ceará mantém 13 áreas de conservação. O Parque Ecológico do Cocó e o Parque Estadual Marinho da Pedra da Risca do Meio são os parques estaduais do Ceará. O Parque do Cocó, o primeiro a ser criado, em 1989, em Fortaleza, é um dos maiores parques urbanos da América Latina e abriga o bioma de mangue. Já Pedra da Risca do Meio, criado em 1997, está localizado a 18 quilômetros da orla do Mucuripe, abriga grande diversidade de peixes e corais e é considerado uma das melhores áreas de proteção para a prática de mergulho no país.[122] Em todo o Ceará existem 58 áreas de proteção ambiental, das quais 20 são estaduais, 11 federais, 13 municipais e 14 particulares.[123]
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O Parque Nacional de Ubajara possui um passeio de teleférico por uma depressão de mais de 500 metros
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Formação rochosa da Pedra Furada, atrativo turístico no Parque Nacional de Jericoacoara
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Serra de Palmácia, parte da Área de Proteção Ambiental da Serra de Baturité
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A Chapada do Araripe a partir do seu sopé no Crato
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Geoparque Araripe, o primeiro nas Américas reconhecido pela UNESCO
Demografia
| Crescimento populacional | |||
|---|---|---|---|
| Censo | Pop. | %± | |
| 1872 | 721 686 | ||
| 1890 | 805 687 | 11,6% | |
| 1900 | 849 127 | 5,4% | |
| 1920 | 1 319 228 | 55,4% | |
| 1940 | 2 091 032 | 58,5% | |
| 1950 | 2 695 450 | 28,9% | |
| 1960 | 3 337 856 | 23,8% | |
| 1970 | 4 491 590 | 34,6% | |
| 1980 | 5 380 432 | 19,8% | |
| 1991 | 6 362 620 | 18,3% | |
| 2000 | 7 418 476 | 16,6% | |
| 2010 | 8 452 381 | 13,9% | |
| Fonte: IBGE[124] | |||
O Ceará é, em termos regionais, o terceiro estado mais populoso do Nordeste, superado por Bahia e Pernambuco, e oitavo do Brasil. No último censo do IBGE, em 2010, a população cearense era de 8 452 381 habitantes (4,4% da população brasileira),[125] dos quais 75,09% na zona urbana e 24,91% na zona rural.[126] De acordo com o mesmo censo, 51,26% eram do sexo feminino e 48,74% do sexo masculino,[126] resultando em uma razão de aproximadamente 95 homens para cada cem mulheres.[127] Quanto à faixa etária, 66,52% tinham entre 15 e 64 anos, 25,89% menos de quinze anos e 7,59% acima dos 65 anos.[128] A densidade demográfica é de 56,76 hab/km²,[2] acima do valor nacional (22,43 hab/km²).[129] A capital, Fortaleza, abrigava sozinha 29% da população cearense.[130] Entre os censos de 2000 e 2010, o crescimento populacional do Ceará foi de 13,93%, valor um pouco superior às taxas regional (11,29%) e nacional (12,48%).[131]
A transição demográfica tem ocorrido rapidamente no estado: a taxa de natalidade, que nos anos 1970 era bastante alta, caiu 17,96‰ em 2008, e a taxa de mortalidade nesse ano estava em 6,41‰. A taxa de fecundidade em 2009 foi de 2,15 filhos por mulher, ligeiramente acima da taxa de reposição da população, o que representou um aumento em relação a 2008, fazendo o Ceará apresentar uma taxa superior à média nordestina.[6] A taxa de crescimento demográfico caiu de uma média de 2,6% na década de 1950 para 1,73% durante os anos 1990. Com a transição demográfica em curso, a proporção de idosos no conjunto da população aumentou de 2,4% em 1950 para 6,72% em 2004, e já em 2009 10,5% dos cearenses possuíam 60 anos ou mais. Em sentido contrário, os jovens de 0-14 anos passaram de 45,7% em 1950 para 28,9% em 2006. Por último, a taxa de urbanização, que em 1940 era de 22,7%, foi estimada em 2006 em 76,4%, tendo se acelerado muitíssimo nas últimas décadas (só em 1980 a população urbana passou a ser majoritária, com 53,1%).[132]
A religião é muito importante para a maior parte da população cearense. O estado é o terceiro mais católico do País, em termos proporcionais, com 86,7% da população seguindo o catolicismo. Em seguida, vêm os protestantes, somando 9,01%; os que não possuem nenhuma religião, com apenas 2,82%; e os fiéis de outras religiões, com 1,34%.[133]

