Inteligência Artificial nas escolas: como preparar os alunos
Uma professora de literatura recebe de seus alunos as resenhas de uma obra clássica. Curiosamente, várias delas fazem análises muito parecidas – até mesmo parecem escritas por especialistas, e não por estudantes em estágio inicial.
Ela entra no ChatGPT, solicita uma análise do livro em questão e constata: muitos apenas copiaram e colaram um texto criado por Inteligência Artificial (IA) generativa. O que fazer?
Punir os alunos, ou zerar a nota, não resolve o dilema. Afinal, estes estudantes serão desafiados, no futuro, a adotar toda nova tecnologia, inclusive as que surgirão com base na Web 3.0, em benefício pessoal e profissional. Mas como incentivar a autonomia intelectual e o pensamento crítico?
É difícil imaginar uma escola do mundo que não esteja lidando com estas questões neste momento. Algumas já começam a aplicar IA, e mais especificamente o ChatGPT, em sala de aula. E têm aprendido lições valiosas para alcançar o melhor uso pedagógico da ferramenta.
Confira 5 casos de uso da IA
1. Para melhorar a escrita: Diferentes instituições de ensino particulares do Brasil, além de diversas secretarias estaduais e municipais de educação, vêm desenvolvendo ferramentas automatizadas de apoio à redação. Elas podem apontar, no texto de cada aluno, pontos de melhoria, desde ajustes na ortografia até recomendações para melhorar a coesão. Assim, a avaliação e as orientações do educador se tornam mais assertivas.
2. Para incentivar o pensamento crítico: A ferramenta ainda comete falhas. É comum ela apontar dados inconsistentes ou mencionar pesquisas que não existem, por exemplo. Esta é uma ótima oportunidade para trabalhar, em sala de aula, a capacidade de questionar o resultado apresentado pela IA, cruzando outras fontes de pesquisa e avaliando possíveis falhas na argumentação lógica apresentada. Muitas escolas americanas têm trabalhado a fundo este aspecto do uso da ferramenta.
3. Para fazer boas perguntas: Quando se trata de utilizar IA, saber o que pedir não é uma tarefa simples. E tem consequências diretas na qualidade dos resultados gerados pela ferramenta. Este é um outro aspecto que diferentes instituições de ensino, nacionais e internacionais, têm trabalhado com os alunos. Com o benefício de que saber fazer boas perguntas é uma habilidade que não se aplica apenas ao uso do ChatGPT. É um diferencial que também ajuda a formar cidadãos, profissionais e até mesmo cientistas de destaque em suas áreas de atuação.
4. Para desenvolver inovação: Da mesma forma que a robótica e a produção de jogos e softwares já faz parte da rotina de muitas escolas, a IA pode ser incorporada às atividades práticas de desenvolvimento de novas soluções. Os estudantes podem ser incentivados, por exemplo, a gerar músicas, vídeos e imagens utilizando os recursos da ferramenta. Muitas escolas brasileiras que já mantêm em seus currículos disciplinas dedicadas ao uso das tecnologias disruptivas estão incorporando a IA generativa como parte do processo de formação.
5. Para debater ética: O ChatGPT e as próximas ferramentas de IA generativa que vêm sendo desenvolvidas estabelecem uma série de questões a respeito de temas sensíveis, como propriedade intelectual e autoria de um trabalho criativo. Uma imagem gerada por tecnologia, seguindo orientações humanas, pertence a quem? As escolas podem se beneficiar destes dilemas para apresentar aos alunos oportunidades para debater conceitos complexos que vão se tornar cruciais no futuro próximo.
Saiba o que a Unesco diz
A fim de apoiar os educadores nesta tarefa e implementar metodologias de padrão internacional nas instituições de ensino, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) tem proposto estratégias que possam ser adotadas pelos ministérios da educação ao redor do mundo.
Em setembro de 2023, lançou a primeira “Orientação global sobre IA Generativa na Educação e na Investigação”, concebida para abordar as disrupções trazidas pelas tecnologias de IA generativa. A organização havia divulgado uma pesquisa apontando que menos de 10% das instituições de ensino no mundo já adotaram regras claras a respeito do uso de IA generativa em sala de aula.
A orientação global da organização sugere 5 benefícios que pode ser alcançados pelo uso rigoroso da tecnologia.
1. Promover inclusão, equidade e diversidade linguística e cultural.
2. Garantir um certo grau de alfabetização tecnológica, que será crucial para o futuro dos jovens.
3. Oferecer análises com base em uma ampla fonte de dados, incentivando a pluralidade de ideias.
4. Testar hipóteses com maior agilidade, o que pode levar os jovens a pensar em propostas de soluções eficazes para os problemas dos locais onde vivem.
5. Melhorar a qualidade da interação entre professores e alunos, com base na redução de tarefas repetitivas.
“Na perspectiva de uma abordagem centrada no ser humano, as ferramentas de IA devem ser concebidas para alargar ou aumentar as capacidades intelectuais humanas e as competências sociais”, defende a Unesco em seu relatório, que conclui:
“Há muito que se espera que as ferramentas de IA possam ser ainda mais integradas como parte integrante das ferramentas disponíveis aos seres humanos para apoiar a análise e a ação para futuros mais inclusivos e sustentáveis”.