Cinema na escola

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Anderson Moço, NOVA ESCOLA, Camila Monroe

Todo ano, quase 100 milhões de ingressos de cinema são vendidos no país. Só na cidade de São Paulo, em um único fim de semana, mais de 200 mil vídeos são alugados. Os filmes são parte importante do cotidiano dos brasileiros, mas nem sempre encontram seu lugar em sala de aula. Esse é um erro e tanto, já que a telona pode funcionar como uma preciosa ferramenta didática para a aprendizagem de conteúdos de diversas disciplinas. “O cinema é uma experiência cultural importante, assim como a música e a literatura. A escola precisa levar isso em conta e tratar esse trio com igualdade”, diz Marcos Napolitano, professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP) e especialista na utilização de filmes em aula.

Ficção ou documentário, curta ou longa-metragem – os gêneros e as opções de trabalho são inúmeros e hoje já é possível afirmar que o conhecimento sobre como usar filmes está bem sistematizado. O trabalho pode seguir por dois caminhos, dependendo do objetivo do professor:
– Aproximar a turma da linguagem artística específica do cinema, o que pode ser feito tanto na aula de Artes como na de Língua Portuguesa;
– Auxiliar na compreensão de conteúdos curriculares em diversas disciplinas dentro de sequências e projetos didáticos.

Em ambos os casos, é preciso começar expondo os objetivos da exibição e descrevendo o que será visto. “Isso é fundamental para não descaracterizar o cinema como um objeto cultural. O ideal é antecipar para a turma elementos da história, falar sobre o diretor e outras produções dele, comentar sobre os atores, mostrar a capa e a contracapa, ressaltar características técnicas, como a fotografia, contar curiosidades da época em que foi lançado e, principalmente, dizer por que gosta ou não daquele filme. O professor deve se mostrar como um espectador crítico e experiente para que os alunos aprendam a se posicionar frente ao que veem”, conta Silvinha Meireles, coordenadora do programa Cine-Educação, da Cinemateca Brasileira de São Paulo.

A Ciência em A Era do Gelo 2

Não precisa ser um filme de caráter educativo para ser trabalhado em sala de aula. Aqueles que lotam as salas de exibição podem ser bem explorados, como A Era do Gelo 2 (Carlos Saldanha, animação, 91 min., 20th Century Fox).

Enredo três amigos, um mamute, uma preguiça e um tigre dentes-de-sabre, lutam pela sobrevivência e, ao mesmo tempo, tentam alertar a todos sobre os riscos trazidos pelo fim da era glacial.

Conteúdos para o 6º e 7º ano
– Aquecimento global O filme mostra as consequências da elevação da temperatura na Terra no passado. Com base nisso, trace um paralelo com o atual cenário de aquecimento do planeta e suas decorrências.

– Evolução Com base na Teoria da Evolução das Espécies, de Charles Darwin, discuta o porquê de a maioria dos animais retratados no filme não existir hoje.

Conhecer a linguagem para entender de cinema

Se o objetivo é a aproximação com a linguagem, é preciso achar um foco de trabalho (como se constroem personagens? Que estética caracteriza a produção de um diretor? Como as emoções são transmitidas?), assistir integralmente a diversas produções, debater com foco no tema e aprofundar o que foi estudado. O ideal é que a sessão seja no contraturno para preservar o tempo de aula. Além do mais, se os alunos forem adolescentes e de turmas da manhã, as chances de eles dormirem ou não conseguirem manter a atenção na tela são enormes.

“Para esse tipo de trabalho, o professor precisa conhecer um pouco mais sobre cinema e estudar o assunto, assim como fazemos com a literatura”, explica Silvinha. Os alunos devem aprender sobre os comportamentos comuns aos espectadores, como opinar sobre a obra e analisar questões técnicas. Mas que fique claro: encomendar antes da sessão uma tarefa para a turma, como fazer um resumo, é um crime. A ideia é que todos se concentrem na obra. “O espectador só observa e aprende a linguagem cinematográfica quando está imerso no filme. A tarefa na hora da exibição é assistir. E ponto”, completa Silvinha.

Billy Elliot e o destino

Uma característica do cinema é permitir uma pronta identificação com a plateia. É comum o estudante se projetar no papel dos personagens, o que deve ser aproveitado pelo professor para trabalhar comportamentos e paradigmas sociais com filmes como Billy Elliot (Stephen Daldry, drama, 111 min., UIP Brasil, tel. 21/2210-2400).

Enredo é a história de um menino que vive numa pequena cidade inglesa em que o futuro de quase todo homem é trabalhar em minas de carvão. Billy enfrenta grandes problemas sociais e familiares quando resolve deixar o boxe para dançar balé.

Conteúdos para o 8º e 9º ano
– Perspectivas Discuta com os alunos as visões que eles têm do próprio futuro, o que querem ser ou fazer quando adultos e a influência da família e dos amigos nessas escolhas.

– Preconceito A opção de Billy pela dança não é respeitada por todos. Debata a relação existente entre gênero sexual e determinadas profissões e o que sofrem as pessoas que quebram esses paradigmas.

Cinema como aproximação ou análise de um conteúdo

Para utilizar a sétima arte como uma ferramenta didática, o primeiro passo é definir o seu objetivo ao exibir um filme, seja ele ficção ou documentário. A ideia é discutir um tema específico? Ilustrar uma passagem do livro didático? Mostrar o ambiente sociocultural de uma época? Dar subsídios a um debate? Ter uma visão de um fato histórico relevante?

“O professor deve saber o que deseja, o que pretende extrair da obra, as conexões que existem entre o filme e suas aulas e as possibilidades de paralelo entre materiais didáticos de outra natureza”, conta João Luís de Almeida Machado, doutor em Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e autor de livros sobre o tema. Isso requer planejamento e pesquisa antecipados, tanto como clareza do que será feito depois (que tipo de produção pedir aos alunos, quais reflexões estimular e como será a avaliação). É recomendável também selecionar materiais de apoio, como links sobre o filme na internet e textos de jornais e revistas. “Toda essa preparação garante a segurança para as intervenções que serão feitas com os alunos e para avaliar se aquele é o filme mais indicado”, explica Almeida Machado.

Não é necessário passar todo o filme em aula. O professor pode selecionar os trechos que mais atendem às necessidades do trabalho. Por exemplo: Pearl Harbor (Michael Bay, ação, 183 min., Buena Vista Filmes do Brasil, tel. 11/5503-9900) tem quase duas horas e meia de duração, mas as cenas essenciais sobre a entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial não chegam a 20 minutos. “Se os alunos pedirem para continuar, programe a exibição do restante em períodos alternativos”, recomenda Almeida Machado.

A escolha da obra precisa levar em conta as capacidades dos alunos, a faixa etária e os conteúdos apresentados. É óbvio que violência gratuita e nudez não são adequadas. A classificação indicativa (que fica impressa na capa de todos os DVDs e está nos cartazes do cinema) ajuda, mas é fundamental que o professor veja o filme antes. “Somente ele será capaz de julgar a adequação, levando em conta a idade, mas também fatores de ordem social, cultural, econômica e religiosa da turma”, ressalta Napolitano.

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